quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Breve história da Internet...

Escrevi esse texto para auxiliar a minha pesquisa sobre preservação digital, resolvi postar ainda que sem as referências...

A profecia da criação da internet foi abordada em 1991, no romance Mirror World, de David Gelertner, cientista da computação e professor da Universidade de Yale. Contudo, a criação da rede mundial de computadores remonta à época de um mundo bipolar e em constante tensão bélica.
Em 1957, o Departamento de Defesa americano cria a Advanced Research Projects Agency (ARPA) com objetivo de liderar pesquisas na área ciência e tecnologia militar, a recém estabelecida agencia foi uma resposta ao programa Sputinik, primeiro satélite artificial da Terra.
O governo dos Estados Unidos, temerosos de que ataques a bases militares trouxessem informações sigilosas a público, idealiza um sistema de compartilhamento descentralizado de informações. 
Em 1961, o primeiro artigo sobre a teoria da comutação por pacote de dados (packet-switching ou PS), é escrito por Leonard Kleinrock. Em 1962, J. C. R. LickLider e W. Clark, do Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT) já falavam em termos da existência de uma Rede Galáctica, que incorporaria interações sociais distribuídas.
David Watt Davies, cientista da computação de origem galesa, do Laboratório Nacional de Física da Grã-Bretanha (em inglês, National Physical Laboratory – NPL), cria a expressão “transferência de pacotes” - sistema de transmissão de dados em rede de computadores no qual as informações são divididas em pequenos pacotes, que por sua vez contém trecho dos dados, o endereço do destinatário e informações que permitiam a remontagem da mensagem original. O sistema de envio quebrava as informações em pacotes e o sistema receptor os unia novamente - em 1966, para descrever o sistema de envio de pacotes de informação entre computadores. No ano seguinte, comanda o desenvolvimento da chamada Rede de Dados NPL (NPL Data Network), um experimento em comutação de dados, usava linhas de 768kbps.
A ARPANET foi estabelecida entre 1968 e 1969, embora discussões sobre a estrutura da instituição e o primeiro projeto da rede ambas lideradas por Larry G. Roberts, tiveram lugar em Ann Harbor, Michigan, em 1966 e 1967, respectivamente. A rede funcionava por meio de um sistema conhecido como comutação por pacotes.
Após a sua criação, a ARPANET cria ‘nós’ em quatro universidades (Nó 1: Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA); nó 2: Stanford Research Institute (SRI); nó3: Universidade da Califórnia Santa Barbara (UCSB) e nó 4: Universidade de Utah. Em 1971, Ray Tomlinson cria um programa de e-mails derivado de dois outros – um programa intra-máquina (SENDMSG) e um programa experimental de transferência de arquivo (CPYNET), a inovação jazia no fato que de esse programa possibilitava o envio de mensagens entre diferentes nós conectados à ARPANET. Nos anos seguintes, várias outras implementações tecnológicas ocorreram, entre elas o primeiro chat de computador a computador surge durante a Conferência Internacional sobre Comunicações de Computadores (ICCC), primeiras ligações internacionais à entre a University College of London (Inglaterra) e a Norwegian Seismic Array (NORSAR). Em 1974, Bob Metcalfe delineia a idéia para a Ethernet em sua tese de doutorado.
Vint Cerf e Bob Kahn apresentam idéias básicas de Internet no International Network Working Group - INWG, ocorrido na Universidade de Sussex, Inglaterra, e publicam no ano seguinte "A Protocol for Packet Network Interconnection" (Um Protocolo de Interconexão para Pacotes de Rede), que especifica em detalhes o desenho de um Programa de Controle de Transmissão (Transmission Control Program - TCP). A BBN (Bolt Beranek and Newman, empresa de tecnologia) lança o primeiro serviço comercial de comutação por pacotes, o Telenet.
Segundo Briggs e Burke (2004, p. 310), na visão do Pentágono a razão de ser da então limitada rede era:
um elemento essencial da sua razão de ser era que a rede pudesse sobreviver à retirada ou destruição de qualquer computador ligado a ele, e, na realidade, até a distribuição nuclear de todo ‘infra-estrutura’ de telecomunicações.
Já as universidades consideravam a Rede como espaço de “acesso livre” aos usuários, professores e pesquisadores, em que eram eles os comunicadores.
A National Science Foundation (NSF), foi criada em 1974, considerando uma comunidade de pesquisadores maior do que aquela abarcada pela ARPANET. Como dito em relatório do mesmo ano referida da agência: “ambiente de fronteira que ofereceria comunicação avançada, colaboração e troca de recursos entre pesquisadores geograficamente separados ou isolados” (BRIGGS; BURKE, 2004, p. 311).
A Computer Science Network (CSNET) se estabelece com apoio financeiro da NSF em 1979 e cresce o suficiente para se tornar estável. Em 1983, a DARPA foi ligada a essa rede, que já era composta por outros cinco núcleos de supercomputação.
De modo concomitante à realocação da DARPA e da construção de backbones financiados pelo governo americano, o protocolo TCP é subdividido em TCP (Protocolo de Controle de Transmissão, em inglês: Transmission Control Protocol) e IP (Internet Protocol). O Protocolo da internet permitia que o tráfego de informações fosse encaminhado de uma rede para outra. Todas as redes conectadas pelo endereço IP na Internet se comunicam para que todas possam trocar mensagens.
Esse fato é particularmente importante, pois a Defense Communications Agency (DCA), hoje Defense Information System Agency (DISA) os estabeleceram para a ARPANET como o protocolo de série, conhecido como TCP/IP.
Em 1984, Sistema de Nome de Domínio (Domain Name System - DNS) é introduzido e o número de servidores conectados passa dos mil.
Após a implantação da Rede de Ciência da Computação (CSNET), a National Science Foundation (NSF), cria uma rede de pesquisa acadêmica a fim de facilitar o acesso de pesquisadores aos centros de supercomputação por ela financiados.
Em 1985, a NSF começou a financiar a criação de cinco novos centros de supercomputação, são eles:
         John von Neumann Computing Center (JVNC) na Universidade de Princeton;
         San Diego Supercomputer Center (SDSC) no campus da Universidade da California em San Diego (UCSD);
         National Center for Supercomputing Applications (NCSA) na Universidade de Illinois em Urbana-Champaign;
         Cornell Theory Center na Universidade Cornell;
         Pittsburgh Supercomputing Center (PSC), esforço conjunto da Universidade Carnegie Mellon, da Universidade de Pittsburgh e  Westinghouse.
Também em 1985, sob a liderança de Dennis Jennings, a NSF estabeleceu o National Science Foundation Network (NSFNET), uma rede de pesquisa de propósito geral, um hub para conectar os cinco centros de supercomputação, juntamente com o centro financiado pela NSF, o National Center for Atmospheric Research (NCAR) entre si e com as redes de pesquisa e educação regionais que por sua vez se conectariam as redes nos campi.
Utilizando a arquitetura de rede em três camadas (three tier network architecture), a NSFNET proveria acesso para os centros de supercomputação e outros locais pela rede do backbone, sem nenhum custo para os centros ou para as redes regionais usando os protocolos TCP/IP, inicialmente implantados com sucesso na ARPANET.
O NSFNET backbone (com capacidade de  56 Kbps) começa a operar em 1986, estabelecendo rede com cinco centros de supercomputação e o National Center for Atmospheric Research (NCAR), que também era financiado pela NSF.
A consequência imediata da melhora estrutural na rede é a explosão de conexões, principalmente nas universidades. No ano seguinte, o número de servidores passa dos 10 mil, espalhados pelo mundo. Em 1989, esse volume de servidores aumenta em 10 vezes.
Nas palavras de Castells:
a rápida difusão de protocolos de comunicação entre computadores não teria ocorrido sem a distribuição aberta, gratuita de software e o uso cooperativo de recursos que se tornou o código de conduta dos hackers.[...] O advento do PC ajudou consideravelmente a difusão de redes de computadores. [...] A maioria das redes contudo exigia um backbone ancorado em máquinas mais potentes , e isso só foi possível graças ao contato entre redes baseadas em ciência e comunidades de hackers nas universidades. (2003, p. 25)
As redes exclusivas da Big Science, uma vez abertas à comunidade acadêmica (“redes contraculturais”, segundo Castells) se converterão em espaços para circulação da inovação e do conhecimento.
De modo concomitante ao desenvolvimento da base estrutural para distribuição da rede estabelecida, padrões e protocolos para transmissão de dados também já desenvolvidos e ao crescimento da rede para fora do contexto puramente acadêmico/científico, a hipertextualidade apresenta-se como imperativo da rede mundial que se formaria nos anos seguintes.
O cientista Tim Berners-Lee, do CERN, antiga sigla do Conseil Européen pour la Recherche Nucléaire hoje designado European Organization for Nuclear Research, esboçou a ideia da World Wide Web já em 1989. Criada por ele em 1992. Lee especulou sobre a criação de um ambiente onde se acessa tudo de todos os lugares com a seguinte máxima: “Suponha que eu tinha a possibilidade de programar meu computador para criar um espaço em que tudo possa ser ligado a tudo” (BRIGGS; BURKE, 2004, p. 312). A rede seria um espaço livre, aberto e sem proprietários e no hipertexto se refere à ao texto digital que agrega conjuntos de informação acessíveis por meio de hiperlinks.
Coaduna-se à ideia mirabolante do cientista inglês a tão conhecida proposição de Vannevar Bush no famosíssimo artigo “As we may think”. De 1945, o escrito parece preconizar, com o Memex, o que seria definido mais tarde como hipertexto. Barret (1989, p. 12) chama o Memex de um “sistema hipertextual prototípico”, projetado sob um princípio ‘associacionista’, que trabalha da mesma maneira que a mente humana”.
Ainda que a abertura total da internet figure como passo natural de sua história, essa possibilidade apenas se concretizou com a criação do protocolo HTTPS (HyperText Transfer Protocol Secure), possibilitando o envio de dados criptografados para transações comercias pela internet. O que se pode notar é que o interesse mundial aliado ao interesse comercial, que evidentemente observava o potencial financeiro e rentável daquela "novidade", proporcionou a explosão e a popularização da Internet na década de 1990. A internet, portanto, já era um símbolo político de abertura para todas as mídias de comunicação para objetivos públicos e privados.
A rede como espaço de intervenção social livre é resultado da aceleração do processo de inovação tecnológica estabelecido e na consolidação da rede, primeiro em meio acadêmico e em um segundo momento como espaço aberto ao comércio e às transações financeiras. Nas palavras de Cocco; Galvão; Silva. (2003, p. 11):
Nas mudanças econômicas, tecnológicas, sociais e culturais que acompanham a emergência e a ampla difusão das novas tecnologias de informação e comunicação (NTIC) e a dimensão cognitiva da economia, a produção constante e intermitente do “novo” impõe-se como um elemento comum, evidenciando deslocamentos paradigmáticos com profundas implicações na própria relação entre trabalho e vida. A produção do novo aparece como questão essencial para a ciência econômica na medida em que implica a inserção do aleatório, da incerteza e do desequilíbrio no cerne da atividade produtiva. A invenção e a inovação ascendem à posição de elementos fundamentais para o sucesso econômico de empresas, sistemas produtivos, regiões e países, implicando novas demandas para as políticas públicas. (COCCO; GALVÃO; SILVA, 2003.)
A resultante dessa série de fatores foi a popularização da internet a nível mundial. O Internet World Stats é um sítio internacional que possui dados sobre o uso da internet no mundo, estatísticas populacionais, estatísticas de viagem e dados de Internet de Pesquisa de Mercado, de mais de 233 países e regiões do mundo, estimou que cerca de 2,5 bilhões de pessoas eram usuárias da internet em junho de 2012.
O Brasil chegou à marca dos 82 milhões de internautas. De acordo com pesquisa da Ibope Nielsen, divulgada em julho. O número de internautas no Brasil cresceu para 82,4 milhões de pessoas no primeiro trimestre de 2012.
Os indivíduos buscam, cada vez mais, uma constante atualização de informações na web, estabelecendo redes de conhecimento resultantes de conexões e da interação entre os atores, uma troca intensa de informações que são, geralmente, convertidas em conhecimento.
Uma das considerações contemporâneas desse espaço de intervenção social coletivo concerne à organização desse caos invisível cujo crescimento é exponencial. É necessário atentar para a internet invisível (deep web) – informações que não usam o protocolo HTTP, da web. Ou seja: apenas o seu navegador de internet não é suficiente para ver esses sites. A deep web é composta de grandes quantidades de informação que tem sido postadas online e, que por razões técnicas não foram catalogadas ou atualizadas pelos motores de busca.
A deep web começou em 1994 e era conhecida como o 'Web Invisível’. Foi rebatizada em 2001. Contudo, se acredita que a origem da deep Web remonta ao começo da década de 1990, com a criação da "Onion Routing" – programa tratava de propostas de pesquisa, design e análise de sistemas anônimos de comunicação pela United States Naval Research Laboratory, o primeiro passo para o Projeto Tor".
Em 2006, TOR deixou de ser um acrônimo de The Onion Router para se transformar em ONG, a Tor Project, uma rede de túneis escondidos na internet em que todos ficam quase invisíveis. O nome do projeto se justifica, pois a estrutura da rede é semelhante é a uma cebola, uma vez que em muitas é necessário atravessar várias camadas para se chegar ao conteúdo desejado.
A deep web é um espaço livre para práticas ilegais, pois potencializa o nível de potencialidade e anonimato presentes na web visível. Redes como a Silk Road, rede secreta para compra e venda de drogas de todos os tipos, são um exemplo o que está invisível nesse inóspito repositório de informações que não pode ser controlado. Agências policiais em todo o mundo estão se esforçando para chegar a estratégias para parar o tráfego online dessa rede. Esforços sem sucesso até agora.

O aparecimento da deep web é ainda mais preocupante pelo seu potencial de ‘arma’ de controle e espionagem. De acordo com a revista Wired, a U.S. National Security Agency (NSA) tem planos de usá-los para espionagem cibernética. "A web profunda contém relatórios do governo, bancos de dados e outras fontes de informação de alto valor para o Departamento de Defesa e da comunidade de inteligência", segundo afirmou o relatório de 2010 do Defense Science Board (DSB).